Pateta alegre

Não sou propriamente uma pessoa que ande por aí a sorrir por tudo e por nada. Se fosse alvo de paparazzi, duvido que me capturassem sequer uma ou duas frames com os incisivos a descoberto, e desconfio mesmo que não há qualquer gravação de câmara de vigilância em que me salte um canino ou que se me luzam os pré-molares. Ou seja, apesar de não andar necessariamente de semblante carregado, trago comigo, emaranhada no quotidiano, a chamada cara-d'enjoado-ao-calhas.
Vem ao caso o meu tormento de escola jesuíta. Inexplicavelmente, tenho uma incontrolável vontade de gargalhar nos sítios e situações mais despropositados, ou melhor, nas circunstâncias em que é pura e simplesmente inapropriado - e lamentável - rir. Mais: onde nem uma agulha deve bulir ou uma pestana se pode ouvir.
Ele é nas aulas, numa prova oral; na missa, naquela parte em que o padre saboreia a hóstia e sorve repenicado o alicante bouschet; no tribunal, na leitura da sentença; na tomada de posse, ante o discurso; no velório, perante a urna. Nos recitais de piano. Nas declamações. Nos minutos de silêncio.
Em quaisquer destas e doutras situações, não raras as vezes, começo por contrair inusitadas convulsões faciais, soluçar abafadas expirações nasais, contrair o diafragma e suar as estopinhas até cerrar os olhos. E é aí que, de supetão, alcanço o esplendor e me fendo no mais farfalhento dos risos à Mutley.
Vou deixar de fumar.
JoãoG